O Autor

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O motivo desta página tem como intuito dar a conhecer nomeadamente aos elementos deste grupo,todas as nossas actividades em conjunto.Em especial o nosso passeio anual que decorre no mês de Setembro.Visa sobretudo estreitar os laços de amizade já existentes.Mas também reforçar e consolidar através destes eventos que queremos que prossigam por muitos anos.Sabemos que não é facil.Os tempos são outros!O individualismo e alguma vaidade estão a sobrepor-se de alguma forma ao colectivo...este sim agente gerador de congregação irmanados pela mesma causa e que se quer...O companheirismo!...

domingo, 30 de novembro de 2008

Núcleo do Sagrado Coração de Jesus

Por aqui passaram muitas gerações...

Foi a 19 de Janeiro de 1936 que se fundou o Núcleo do Sagrado Coração de Jesus, sob a presidência de D. António Ferreira Gomes, num meio onde as carências eram tantas que, diz a acta n.º 1 (que reproduzimos graças à bondade do nosso amigo e Senhor Padre Miguel), a sessão inaugural «foi acompanhada de música de rádio, que também foi inaugurada nesse dia».
O Núcleo, como sempre lhe chamávamos, foi sempre a menina dos olhos do Senhor Padre Luís Nunes Pereira de Faria, para nós o P. Luís de Faria, ou muito simplesmente o Senhor Padre Luís. Criou-se como escola de Homens de sã moral, dentro da mais vivida formação religiosa, na permanência da legenda latina «mensana in corpore sano». As instalações do Núcleo, nos dois andares no nº 60 da Rua de Vilar, estavam abertas diariamente, das vinte e uma à meia-noite, com mesa de bilhar e rádio para os mais velhos, duas mesas de pingue-pong (uma para os mais velhos e outra para os mais novos) e a sala da direcção, que funcionava como biblioteca, sala de ensaios de canto coral ou de teatro e, quando necessário, local de confissões (às vezes também era de «sermões» individuais, o que era raro, o que não excluía o seu puxão de orelhas quando necessário).
Mas o que esse bondoso sacerdote e homem de bem conseguiu criar foi um respeito moral pela vida e pela fraternidade que, ao fim de tantos anos, ainda subsiste entre os da velha guarda, e sempre renovado cada vez que nos encontramos.
Pode a vida ter diluído ou exacerbado a religiosidade de alguns, podem os interesses materiais ter afastado um ou outro, mas todos nos assumimos com o mesmo «ferro» indicador: somos do Núcleo! As gerações sucederam-se ao longo dos quase cinquenta anos que o P. Luís dirigiu o Núcleo, mas a camaradagem desse tempo, vivida em intermináveis partidas de ping-pong, nas cartas, no dominó, nas damas ou no futebol de mesa, essa nunca mais morreu.
Quanto ao futebol de mesa, nunca vimos mais nenhum…e no fundo, e em esquema de falta de meios da época, foi o directo antepassado dos actuais «subuteos» da actualidade. Um tabuleiro, de madeira, de uns cinquenta por vinte e cinco centímetros, com rebordos laterais mais elevados. A um centímetro dos bordos laterais uma fieira de pregos, com pequenos intervalos entre si, apenas com as aberturas das balizas no centro dos lados menores. Balizas essas construídas por ferro em U devidamente encordoadas.
No lugar dos jogadores e guarda-redes em campo, pregos de igual tamanho espetados na tábua, marcavam os lugares (era do tempo em que se jogava com cinco avançados—se quiserem o esquema é o mesmo dos actuais bilhares de matrecos). Jogava-se com uma esfera de aço a servir de bola e,. às vezes rematava-se a bola com auxilio de uma pá de madeira, tipo dos actuais suportes de gelados. Os jogos eram renhidamente disputados e só paravam quando a bola ultrapassava as paredes do «Estádio» ou entrava golo. Mas aí era bola ao centro e todos outra vez ao ataque.
Na Missa Dominical, às dez horas da manhã, era ver a atenção e, porque não, a fé que transparecia dos rostos desses diabretes, enquadrados pelos mais velhos, desses «índios» que eram capazes de pôr a cabeça em água às freirinhas e aos policias, mas eram capazes também de viver a Missa de olhar pregado naquele Homem, que conseguia congregar em si toda aquela juventude.

Heróis desse jogo memorável!...
Em Cima da Esquerda para a direita
Manel da Russa-Carlos-Dúlio-Belo-Fernando-Nelson-Melo-Polibio

Nelo-Zé António-Jorge Ferreira-Rui Ferreira-Leandro- Branco
Em baixo da Esquerda para a direita

Não sendo, nem por sombras, um clube desportivo, levávamos muito a sério a prática do futebol e estar incluído na equipa era privilégio dos mais velhos.
Aqui não resisto a contar uma das muitas historias, relacionadas com o futebol. Em 1971, o presidente do Núcleo, era o António Aguiar, que durante muitos anos comandou os destinos da instituição. Não consigo lembrar-me dos pormenores que o levaram a abandonar as suas funções, lembro-me sim, de o Senhor Padre Miguel, convidar-me para fazer parte de uma nova direcção constituída também com o Rui Ferreira com o cargo de tesoureiro, do Leandro a vogal, eu a secretário, e o senhor Paulino como presidente, visto ser mais velho e de bom relacionamento com o Senhor Padre Miguel, e por esse motivo mais respeitado, mas sem a necessidade de estar presente todos os dias. Passados poucos dias, sou abordado pelo António Aguiar, então dissidente e que entretanto criara um clube na rua com o pomposo nome de Juventus de Vilar!,para um desafio de futebol contra o Núcleo. Claro que aceitei o repto, mas dizendo-lhe que iria falar com o Senhor Padre Miguel. Posto ao corrente da conversa tida, e que estaria uma taça em disputa a pagar a meias, o Senhor Padre Miguel não pôs entrave algum, e até sugeriu que a essa taça se desse o nome de «taça amizade».

Secretário do Núcleo em 1971
Tudo combinado, o jogo seria disputado num sábado de manhã no campo do Ramaldense. O que eu não sabia era que os melhores jogadores já tinham sido recrutados por ele. Perante esta jogada subterrânea não me restou outra solução, senão a de recorrer a alguns reforços do Campo Pequeno, que raramente apareciam no núcleo. Estava em causa a honra do Núcleo Sagrado Coração de Jesus, e havia que preservar essa virtude!. Na qualidade de dirigente, treinador, e jogador este foi um dia feliz para mim e para todos que envergaram pela primeira vez as camisolas pretas com a cruz de Cristo a vermelho!... Fizemos um jogo fantástico de querer, a vontade foi muita, tanta, que ao intervalo perdíamos por 2-0 e no segundo tempo viramos o resultado a nosso favor por 3-2!... O jogo foi arbitrado pelo senhor Tavares, rezam as crónicas que o seu trabalho não agradou aos rapazes do Núcleo!...Claro que nos dias seguintes não se falou de outra coisa, tinha sido um vitória estrondosa, que contribuiu para o desaparecimento da pomposa Juventos de Vilar! e para o regresso à casa mãe dos rapazes iludidos por um dissidente!...


Frequentei o Núcleo até Outubro de 1972, data em que fui para a vida militar, e já aí se sentia contra a nossa vontade, a infiltração de alguém que queria fazer sede de uma equipa de futebol amador com o nome do Núcleo. Não o conseguiram durante a nossa vigência, mas quando regressei de Angola vi que conseguiram os seus intentos, e com isso desvirtuaram as suas origens para que foi fundado. Resistiu durante alguns anos com o nome de Núcleo, mas já tinha morrido à alguns anos atrás tal como o conhecíamos com boas recordações.


O P. Luís faleceu em 7 de Janeiro de 1982 e imediatamente todos se congregaram para na sua terra natal ser enterrado, e lá ter o seu monumento que a saudade dos «seus» rapazes não podia de deixar de lhe levantar.
Mas para nós, seria imperdoável esquecer o Homem e a Obra que ao longo de décadas nos uniu: o Núcleo do Sagrado Coração de Jesus.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Alpinistas Descalços?!...

... Derrotados, e Conformados aos 18 anos?!...

País de Merda...
Somos todos os dias confrontados com noticias a dar-nos conta de situações de miséria e pobreza, que em alguns casos são geradores de violência nomeadamente nos bairros.

Pensei muito bem antes de emitir opinião sobre estes acontecimentos. Depois de ouvir opiniões, e de ler escritos e artigos em vários jornais, reuni aquilo que sustenta o meu sincero ponto de vista.

Vou falar claro, sem rodeios, sem preciosismos nem palavras bonitas. Sou a favor das pessoas com ética, que se afirmem e sejam pela defesa e respeito ao próximo, e que saibam viver em sociedade.

Sou contra aqueles que se defendem por detrás de estigmas, como a xenofobia, o racismo, a minoria, a queixa permanente, quando vivem no mesmo bairro dois tipo de “pobres.”

O real, aquele que trabalha, que vive com dificuldades para dar de comer aos seus filhos sem luxos, sem ajudas, mas que vive honestamente.

O falso neste caso em concreto, o que não quer trabalhar, ou se trabalha, «os outros que paguem as suas obrigações!»...São pessoas que reclamam, mas têm ao fim do mês ajudas do governo, que reclama, mas que têm luxos em casa como “DVD”, “PLASMA”, “PLYSTATION”, bons carros, (em alguns casos nem uma moeda para pôr um ceguinho a tocar) rendas de casa barata, etc.etc; e que sem trabalhar, de forma ilícita ou duvidosa pode adquirir estes luxos e ainda por cima reclamar que é vítima do sistema?!...Mas em que país vivemos?

Vamos dar atenção e ajudar as pessoas que se afirmam e que vivam de forma honesta, defendendo os ideais de família. E vamos contrariar aqueles que sugam os apoios do governo…logo nossos também!... E já agora vamos despertar os governantes, para de uma forma clara, possa ajudar realmente aqueles que precisam, não os que reclamam sem razão.

Vamos criar o movimento de vigiar o próximo, vamos chamar a atenção dos que prevaricam, vamos denunciar as ilegalidades, vamos defender a integridade, a ética o pudor, e a vontade de sermos solidários, sem sermos pacóvios! Vamos pôr a mão na consciência e despertem de uma vez por todas…

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Magusto Sol & Chuva 2008

O Nosso Magusto

Um Grupo do Caraças!...

Pois é rapaziada!...Foi uma grande festa o nosso magusto, realizado no dia 8 de Novembro, e para que isso fosse possível muito contribuiu os nossos operacionais do grupo "Sócio" e "Paulela" que se esmeraram na preparação, e concretização do magusto. A adesão do grupo foi massiva, pois dos 21 elementos que constitituem o grupo, só 2 não puderam estar presente, o que representa uma inequívoca prova de forte espírito de grupo que se quer e saúda. Não faltou as Castanhas, as Febras, Chouriço, e para rematar uma divinal sopa de pedra confeccionada pelo "Sócio"«agora rebaptizado de Abade Baçal». Vinho foi coisa que não faltou,:Dei comigo a pensar!.. se éramos 19, e consumiu-se 17 litros, e muitos dizem não ter bebido, como foi o meu caso, quem o bebeu?» Bom, adiante... Também neste convívio à que destacar a entreajuda manifestada por todos para que tudo corresse bem, e neste aspecto o Sousa, foi a figura maior para surpresa de alguns que não conheciam essa sua faceta de assador, e que assador!...Para a história fica mais uma vez registado que quando à vontade de fazer coisas que aproximem pessoas e consolidam amizades, este é um bom exemplo disso. A acção, e disponibilidade da Celeste para com o pessoal, também merece a nossa gratidão, pois foi importante o seu apoio no desenvolvimento da festa. Apesar de ter trabalhado, nem por isso o Presidente deixou de marcar presença, e dar conhecimento da vontade da entrada no grupo do Feliciano, a que ninguém se opôs. De seguida auscultou-se uma reentrada que mereceu pouco entusiasmo dos elementos do grupo e a que me referirei numa nota à parte.

Nota pessoal

Sou dos que penso que este grupo já conseguiu uma identidade própria, fruto dos quinze anos de de convivência pacifica e de sã harmonia, que lhe dá o direito de repudiar atitudes menos dignas vindas de quem vier e que ofenda qualquer elemento na sua honra. Não se pode tolerar situações destas sob risco de o mesmo se desmembrar, quando o mais fácil é irradiar o infractor e não andar com paninhos quentes na abordagem desta situação. E se duvidas há sobre esta questão, basta o facto de o indivíduo em causa, sem que ninguém o empurra-se para fora, resolveu pura e simplesmente com esta atitude, demonstrar falta de respeito para com os restantes elementos e muito pouco apego ao grupo. Com isto quero dizer, que não se pode entrar e sair quando se quer, e muito menos nestas situações. Aceita-se sim, quando há razões atendíveis tais como, doença, compromissos e razões de força maior. Meus amigos, somos adultos!... Pais, e alguns avôs!... Exijamos respeito mútuo!... Quando isso não acontecer, não contem comigo!
Estavámos na 2º parte do magusto... Começou às 17h, Fim 23h

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vista Aérea do Bairro de Hoje

Uma das zonas que mais tem ocupado a minha atenção, dado o valor histórico de que se reveste, é a da Rua de Vilar. Fica ali para as bandas do Palácio de Cristal e, no século passado, integrava uma vasta área que era conhecida pela designação geral de Bairro de Vilar. Era um dos mais amenos sítios da cidade e, por isso, privilegiado pelos ingleses para suas residências, conforme refere Júlio Dinis neste saboroso texto: "O bairro ocidental é o inglês, por ser especialmente aí o "habitat" destes nossos hóspedes. Algumas casas ao fundo de jardins; jardins assombrados de acácias, tílias e magnólias e cortados de avenidas tortuosas; as portas da rua sempre fechadas. Chaminés fumegando quase constantemente. Persianas e transparentes de fazerem desesperar curiosidades. Ninguém pelas janelas. Nas ruas encontra-se com frequência uma inglesa de cachos e um bando de crianças de cabelos loiros e de babeiros brancos". Percorra o leitor, numa destas manhãs em que não tenha obrigações a cumprir, as ruas de Vilar, da Pena e da Rainha D. Estefânia,vá atento ao ambiente à sua volta, de olhos bem abertos, e verá que ainda hoje encontra por ali o ambiente descrito pelo autor de "Uma Família Inglesa"

Ilha de Vilar

No século x1x havia por ali nada mais do que três grandes quintas, conhecidas por Quintas de Vilar. Eram elas, uma que pertencia a Vicente Pedro Sem; outra de Manuel Francisco Guimarães; e a terceira propriedade de Nicolau Kopke. Além destas quintas havia belas vivendas algumas das quais chegaram até nossos dias, como é o caso da linda moradia que pertenceu a Eugénio Ferreira Pinto Basto, mais conhecida por Casa da Macieirinha, onde o rei Carlos Alberto viveu os seus últimos dias de exílio. É onde está hoje instalado o Museu Romântico. Outra casa importante desta zona era a de João Pacheco Pereira, então abastado capitalista que vivia no seu palácio de Belomonte e tinha em Vilar, a casa de campo. Esta vivenda também ainda existe mas já não na posse dos herdeiros. Havia nesta residência uma linda capela que possuía belas e ricas alfaias. Contigua à casa ficava uma ampla cerca onde vicejavam, além de árvores de frutos, espécies raríssimas da flora ornamental. A casa em questão é a que fica na esquina da Rua de Entre-Quintas e da Rua de Vilar. Uma boa parte da cerca desta casa viria a ser integrada nos jardins do Palácio de Cristal. A esta família pertenceu o Bairro de Vilar desaparecido já nos nossos dias. Foi construído em 1880 também numa parte da cerca da casa de João Pacheco Pereira. Este Bairro de Vilar, que afinal não era mais do que uma ilha, como tantas outras que se construíram no Porto no dealbar da época industrial, foi considerado, para aquele tempo, como sendo "um dos raros exemplos da habitação operaria" Como ao redor se tivessem instalado algumas unidades industriais, o capitalista construiu o bairro, vendo nele uma fonte de rendimento que afinal não teve pois acabou, anos mais tarde, falido e escandalosamente explorado pelos agiotas do tempo.


Casa de João Pacheco Pereira



Ir Além de Vilar


A origem do topónimo Vilar é muito antiga e lembra-nos os longínquos tempos medievos. Cunha e Freitas, na sua sempre apreciada Toponímia Portuense, diz que Vilar, Vilarinho e Vilarelho são "nomes que se davam a pequenos lugarelhos ou casais". Mas o sítio de Vilar no Porto foi, noutros tempos de grande importância e servia muitas vezes como referência para a localização de outros lugares, pois era vulgar aparecerem referências a determinadas ruas, por exemplo, com a indicação de que estava "situada além de Vilar". Referi atrás a quinta do Pacheco Pereira, Chamava-se Quinta do Castanheiro e era nela que brotava o manancial de água que abastecia a fonte chamada das Bicas na rua que teve este nome e que ligava com a antiga Alameda de Massarelos, hoje Alameda de Basílio Teles. Consta de uma crónica da época que era "abundantíssima e excelente em tudo a água dessa fonte". Acerca do topónimo Vilar, o já citado Cunha e Freitas, revela ela também que um documento da Misericórdia do ano de 1552 menciona "um, campo junto ao rio de Vilar que se chamava do Lugarinho na aldeia de Vilar onde mais tarde, no século XIX se abriu a Rua da Piedade da Torrinha para o Padrão de Vilar". Sabe-se que no referido rio de Vilar havia azenhas uma das quais é mencionada no documento indicado por Cunha e Freitas, como sendo a Azenha do Moreira. O nome da Rua dos Moinhos, que fica ali perto, é uma alusão clara à existência desses engenhos no riacho que por ali corre e vai desaguar no Douro, um pouco mais abaixo.






O Teatro do Ferreirinha


Outra casa da rua de Vilar com uma notável história na vida social do Porto do século passado, é aquela em que presentemente está instalado o Instituto do Arcediago Ricardo Vanzeller, que foi arcediago de Oliveira do Douro e cónego da Sé do Porto. Aquela casa serviu, noutros tempos, de residência ao conde de Bretiandos e nela viveu também, António Bernardo Ferreira, dos Ferreirinhas da Régua, que ali montou um teatro por onde passaram notáveis figuras da época que, como amadores, interpretaram papeis em peças famosas. Lembro um desses espectáculos. Representou-se uma tragédia em cinco actos da autoria de Casimiro Delavigne, intitulada "Luís XI". Foi especialmente traduzida para o teatro do Ferreirinha, por José Gomes Monteiro. O protagonista da história foi interpretado pelo próprio tradutor da peça. Gomes Monteiro era, ao tempo, o proprietário da Livraria Moré que ficava na Praça da Liberdade, então chamada Praça Nova, nos baixos do edifício das Cardosas, na esquina com o largo dos Lóios. No lugar da livraria, esteve, depois, e até aos nossos dias a Camisaria Central que foi um dos pontos de reunião de várias tertúlias do começo deste século que reunia, especialmente, gente ligada ao Teatro. No desempenho de outros papéis entraram o Dr. José Pereira Reis, prestigiado clínico da época, José Maria de Sousa Lobo, cunhado do Barão de Massarelos; João Ferreira dos Santos Silva Júnior, que foi mais tarde Barão de Santos; Joaquim Augusto Kopke, Barão de Massarelos; O próprio António Bernardo Ferreira. E chegado a este ponto devo fazer um esclarecimento: Há que distinguir a qual António Bernardo Ferreira me refiro. Porque com o mesmo nome e pertencendo à mesma família existiram três indivíduos: um viveu entre 1787 e 1835, o avô, por assim dizer: o segundo nasceu em 1812 e morreu em 1844; e o terceiro que nasceu em 1835 e casou com uma irmã de Ana Plácido. O teatro da Rua de Vilar foi fundado pelo António Bernardo Ferreira do meio, que estava casado com D. Antónia Adelaide Ferreira. A representação da peça ocorreu em 26 de Fevereiro de 1838, uma altura em que o Porto começava uma frutuosa época de ressurgimento económico. Havia anos que tinham ficado para trás as chagas das lutas liberais. A cidade começava a entrar numa espécie de euforia. Com os negócios outra vez a prosperarem dava-se início a uma época que viria a ficar na história como o tempo dos bailes, dos banquetes, dos grandes casamentos que uniram famílias e juntaram fortunas. Mas, a par com o delírio da vida social, que animava as noites dos salões dos mais conhecidos palacetes do Porto, a cidade modernizava-se, arejava. Rasgavam-se novas ruas, abriram-se avenidas, criaram-se mercados para abastecimento de uma população que não parava de crescer. A indústria começava a ensaiar os primeiros passos. E da província não cessava de chegar gente à procura de melhores dias. Entretanto, escreveu Alberto Pimentel, “o senhor António Bernardo Ferreira, que vai envelhecendo sem que pela destreza perca direito ao epíteto do Ferreirinha, variava infinitamente o número dos seus trens, elegantemente ligeiros, e dos seus cavalos de passeio”. Outros tempos, na verdade!