O Autor

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O motivo desta página tem como intuito dar a conhecer nomeadamente aos elementos deste grupo,todas as nossas actividades em conjunto.Em especial o nosso passeio anual que decorre no mês de Setembro.Visa sobretudo estreitar os laços de amizade já existentes.Mas também reforçar e consolidar através destes eventos que queremos que prossigam por muitos anos.Sabemos que não é facil.Os tempos são outros!O individualismo e alguma vaidade estão a sobrepor-se de alguma forma ao colectivo...este sim agente gerador de congregação irmanados pela mesma causa e que se quer...O companheirismo!...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vista Aérea do Bairro de Hoje

Uma das zonas que mais tem ocupado a minha atenção, dado o valor histórico de que se reveste, é a da Rua de Vilar. Fica ali para as bandas do Palácio de Cristal e, no século passado, integrava uma vasta área que era conhecida pela designação geral de Bairro de Vilar. Era um dos mais amenos sítios da cidade e, por isso, privilegiado pelos ingleses para suas residências, conforme refere Júlio Dinis neste saboroso texto: "O bairro ocidental é o inglês, por ser especialmente aí o "habitat" destes nossos hóspedes. Algumas casas ao fundo de jardins; jardins assombrados de acácias, tílias e magnólias e cortados de avenidas tortuosas; as portas da rua sempre fechadas. Chaminés fumegando quase constantemente. Persianas e transparentes de fazerem desesperar curiosidades. Ninguém pelas janelas. Nas ruas encontra-se com frequência uma inglesa de cachos e um bando de crianças de cabelos loiros e de babeiros brancos". Percorra o leitor, numa destas manhãs em que não tenha obrigações a cumprir, as ruas de Vilar, da Pena e da Rainha D. Estefânia,vá atento ao ambiente à sua volta, de olhos bem abertos, e verá que ainda hoje encontra por ali o ambiente descrito pelo autor de "Uma Família Inglesa"

Ilha de Vilar

No século x1x havia por ali nada mais do que três grandes quintas, conhecidas por Quintas de Vilar. Eram elas, uma que pertencia a Vicente Pedro Sem; outra de Manuel Francisco Guimarães; e a terceira propriedade de Nicolau Kopke. Além destas quintas havia belas vivendas algumas das quais chegaram até nossos dias, como é o caso da linda moradia que pertenceu a Eugénio Ferreira Pinto Basto, mais conhecida por Casa da Macieirinha, onde o rei Carlos Alberto viveu os seus últimos dias de exílio. É onde está hoje instalado o Museu Romântico. Outra casa importante desta zona era a de João Pacheco Pereira, então abastado capitalista que vivia no seu palácio de Belomonte e tinha em Vilar, a casa de campo. Esta vivenda também ainda existe mas já não na posse dos herdeiros. Havia nesta residência uma linda capela que possuía belas e ricas alfaias. Contigua à casa ficava uma ampla cerca onde vicejavam, além de árvores de frutos, espécies raríssimas da flora ornamental. A casa em questão é a que fica na esquina da Rua de Entre-Quintas e da Rua de Vilar. Uma boa parte da cerca desta casa viria a ser integrada nos jardins do Palácio de Cristal. A esta família pertenceu o Bairro de Vilar desaparecido já nos nossos dias. Foi construído em 1880 também numa parte da cerca da casa de João Pacheco Pereira. Este Bairro de Vilar, que afinal não era mais do que uma ilha, como tantas outras que se construíram no Porto no dealbar da época industrial, foi considerado, para aquele tempo, como sendo "um dos raros exemplos da habitação operaria" Como ao redor se tivessem instalado algumas unidades industriais, o capitalista construiu o bairro, vendo nele uma fonte de rendimento que afinal não teve pois acabou, anos mais tarde, falido e escandalosamente explorado pelos agiotas do tempo.


Casa de João Pacheco Pereira



Ir Além de Vilar


A origem do topónimo Vilar é muito antiga e lembra-nos os longínquos tempos medievos. Cunha e Freitas, na sua sempre apreciada Toponímia Portuense, diz que Vilar, Vilarinho e Vilarelho são "nomes que se davam a pequenos lugarelhos ou casais". Mas o sítio de Vilar no Porto foi, noutros tempos de grande importância e servia muitas vezes como referência para a localização de outros lugares, pois era vulgar aparecerem referências a determinadas ruas, por exemplo, com a indicação de que estava "situada além de Vilar". Referi atrás a quinta do Pacheco Pereira, Chamava-se Quinta do Castanheiro e era nela que brotava o manancial de água que abastecia a fonte chamada das Bicas na rua que teve este nome e que ligava com a antiga Alameda de Massarelos, hoje Alameda de Basílio Teles. Consta de uma crónica da época que era "abundantíssima e excelente em tudo a água dessa fonte". Acerca do topónimo Vilar, o já citado Cunha e Freitas, revela ela também que um documento da Misericórdia do ano de 1552 menciona "um, campo junto ao rio de Vilar que se chamava do Lugarinho na aldeia de Vilar onde mais tarde, no século XIX se abriu a Rua da Piedade da Torrinha para o Padrão de Vilar". Sabe-se que no referido rio de Vilar havia azenhas uma das quais é mencionada no documento indicado por Cunha e Freitas, como sendo a Azenha do Moreira. O nome da Rua dos Moinhos, que fica ali perto, é uma alusão clara à existência desses engenhos no riacho que por ali corre e vai desaguar no Douro, um pouco mais abaixo.






O Teatro do Ferreirinha


Outra casa da rua de Vilar com uma notável história na vida social do Porto do século passado, é aquela em que presentemente está instalado o Instituto do Arcediago Ricardo Vanzeller, que foi arcediago de Oliveira do Douro e cónego da Sé do Porto. Aquela casa serviu, noutros tempos, de residência ao conde de Bretiandos e nela viveu também, António Bernardo Ferreira, dos Ferreirinhas da Régua, que ali montou um teatro por onde passaram notáveis figuras da época que, como amadores, interpretaram papeis em peças famosas. Lembro um desses espectáculos. Representou-se uma tragédia em cinco actos da autoria de Casimiro Delavigne, intitulada "Luís XI". Foi especialmente traduzida para o teatro do Ferreirinha, por José Gomes Monteiro. O protagonista da história foi interpretado pelo próprio tradutor da peça. Gomes Monteiro era, ao tempo, o proprietário da Livraria Moré que ficava na Praça da Liberdade, então chamada Praça Nova, nos baixos do edifício das Cardosas, na esquina com o largo dos Lóios. No lugar da livraria, esteve, depois, e até aos nossos dias a Camisaria Central que foi um dos pontos de reunião de várias tertúlias do começo deste século que reunia, especialmente, gente ligada ao Teatro. No desempenho de outros papéis entraram o Dr. José Pereira Reis, prestigiado clínico da época, José Maria de Sousa Lobo, cunhado do Barão de Massarelos; João Ferreira dos Santos Silva Júnior, que foi mais tarde Barão de Santos; Joaquim Augusto Kopke, Barão de Massarelos; O próprio António Bernardo Ferreira. E chegado a este ponto devo fazer um esclarecimento: Há que distinguir a qual António Bernardo Ferreira me refiro. Porque com o mesmo nome e pertencendo à mesma família existiram três indivíduos: um viveu entre 1787 e 1835, o avô, por assim dizer: o segundo nasceu em 1812 e morreu em 1844; e o terceiro que nasceu em 1835 e casou com uma irmã de Ana Plácido. O teatro da Rua de Vilar foi fundado pelo António Bernardo Ferreira do meio, que estava casado com D. Antónia Adelaide Ferreira. A representação da peça ocorreu em 26 de Fevereiro de 1838, uma altura em que o Porto começava uma frutuosa época de ressurgimento económico. Havia anos que tinham ficado para trás as chagas das lutas liberais. A cidade começava a entrar numa espécie de euforia. Com os negócios outra vez a prosperarem dava-se início a uma época que viria a ficar na história como o tempo dos bailes, dos banquetes, dos grandes casamentos que uniram famílias e juntaram fortunas. Mas, a par com o delírio da vida social, que animava as noites dos salões dos mais conhecidos palacetes do Porto, a cidade modernizava-se, arejava. Rasgavam-se novas ruas, abriram-se avenidas, criaram-se mercados para abastecimento de uma população que não parava de crescer. A indústria começava a ensaiar os primeiros passos. E da província não cessava de chegar gente à procura de melhores dias. Entretanto, escreveu Alberto Pimentel, “o senhor António Bernardo Ferreira, que vai envelhecendo sem que pela destreza perca direito ao epíteto do Ferreirinha, variava infinitamente o número dos seus trens, elegantemente ligeiros, e dos seus cavalos de passeio”. Outros tempos, na verdade!